QUE A PAZ CHOVA NO MUNDO

SoniaNogueira

Arte e Emoção Caminhando

Textos


*UMA GRAÇA SENHOR
Menção Especial, com certificado

Cada vez que o olhar de Esmeralda fitava a lapinha, para as comemorações natalinas, pensava: nunca terei uma festa dessas com árvore de natal, lapinha, jantar com mesa farta e tudo mais. E comentou uma vez, nas residências, onda ela fazia faxina como diarista.

Morava em casa simples, porém bem arrumadinha, limpa, mas o que ganhava, juntamente com o salário do marido, vigilante, mal dava para as despesas. Os três filhos estudavam em escola pública. A família caminhava sem maiores ambições.

Saúde é o que eu peço a Deus e disposição para trabalhar, pensava. A missa nunca faltava, acompanhada de marido e filhos. Já alcançou tantas graças pela saúde dos filhos, emprego para o marido, que nada tinha para reclamar, e sim, agradecer.

Aluguel, não pagava. Quando o marido era pedreiro recebeu pequena indenização, pela falta de uma mão que perdeu, durante o trabalho: faltaram os equipamentos necessários, que os patrões não providenciavam.

Esmeraldina era órfã de mãe, desde os cinco anos. O pai sumiu, ela foi crida pela avó materna, que ficou viúva e arranjou novo amor, para seu desagrado.

Preciso arranjar marido. Incomoda-me este homem, com olhar ameaçador, em minha direção, comentou Esmeraldina. Certa noite, ao chegar à igreja afirmou para si: vou arranjar companheiro neste período, na festa da padroeira. Durante as nove noites de novena, a angústia se apoderava. Andava nove quarteirões. Perdia-se em pensamentos pelo caminho. Sentia-se frágil, indefesa sem pai, mãe, irmão. Era tão pequenina que a natureza a ignorava. Seu mundo era tão pequeno: escola; cursava a quarta série, à noite, durante o dia era babá, aos domingos ia à missa. Lazer nenhum, o pouco que ganhava ficava nas mãos da avó. Para sair precisava de roupa calçado transporte, além da cara sisuda da avó.

Um olhar a surpreendeu na última noite de novena. A do jovem pedreiro Ismael. Casaram-se. Milagre meu Deus! Para as pessoas fragilizadas, todas as pequenas recompensas do destino, viram grandes bênçãos envidas dos céus.

Faltavam dez dias para os festejos natalinos. Esmeralda providenciou uma pequena mesa, pôs em cima um minúsculo Menino Jesus, um pequeno Papai Noel e um jarro com flor natural. Trocava a flor todos os dias, ao passar por uma casa que arriava seus galhos fora do muro.

Chegando a casa, presenciou dois burrinhos na sua singela lapinha.
Santo Deus!
Chamou os três filhos. Onde vocês adquiram estes animaizinhos. Não os quero aqui. Quem trouxe trate de devolvê-los.
Eu não, disse Israel.
Nem eu, afirmou Manoel.
Menos eu, comentou Sara.
A mãe confiou e, entregou a Deus o acontecimento.

No outro dia, dois cordeirinhos. No terceiro dia, uma imagem de Nossa Senhora; no quarto dia, os Reis Magos, Melchior (com ouro), Baltazar (com incenso), Gaspar (com mirra), no quinto dia, o Menino Jesus.
“Cerca de 800 anos depois do nascimento de Jesus, eles foram associados a regiões do mundo antigo: Melchior, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; e Baltazar, rei da Arábia. Em hebreu, esses nomes significavam “rei da luz” (melichior), “o branco” (gathaspa) e “senhor dos tesouros” (bithisarea)”.

A família prostrava-se toda noite para rezar, agradecer tamanho milagre. Sentiam vergonha de comunicar aos vizinhos, por temer os comentários maldosos, pilhérias e acusá-los de ladrões.
É uma graça, Senhor, não sei se mereço!
Na noite de Natal, as lágrimas rolavam com frouxidão, na face da Esmeralda e a lembrança da mãe apertava o coração miudinho, de tanta saudade.

Bateram a porta. Ao abrir, cinco senhoras, acompanhadas de maridos e filhos, bandeja com comida, e aroma de salivar o estômago, adentraram sorridentes.
Viemos jantar com vocês.
Deus meu! A minha mesa não dá para todos.
Trouxemos mesas portáteis. Viemos realizar seu sonho, de ter jantar abastado com lapinha e tudo que sonhou.
Minhas patroas queridas, só Deus poderá compensá-las. É isso que eu chamo de milagre, ou providência divina.
E entre lágrimas e abraços prometeu devolver todos os ornamentos natalinos.
É seu. Será seu milagre hoje e sempre. Feliz Natal.
***
VI Concurso Literário Oliveira Caruso, Menção Especial pela prosa: Uma Graça Senhor

 
Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 24/03/2017
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